Em 1994, o epidemiologista Jerry Brown tinha definido a atividade física como “a melhor compra que é possível fazer-se” para melhorar a Saúde Pública. Em cada ano olímpico a prestigiada revista médica The Lancet publica em edição especial uma série de artigos sobre os benefícios da prática de exercício físico para combater os grandes males que atacam a saúde mundial. Em 2012, as conclusões de vários estudos apontavam para 3 a 5 milhões de mortes em cada ano que poderiam ter sido evitadas se houvesse prática de exercício físico.
Agora, em 2016, a principal conclusão de quatro estudos recém-publicados é a de que está a haver muito pouca melhoria. O progresso é mínimo. Pelo menos um quarto de toda a população adulta no mundo não faz os mínimos de exercício físico e, ainda pior face ao futuro, mais de metade dos jovens não pratica o mínimo recomendado pela OMS de 150 minutos semanais de atividade física.
Há já muito tempo que médicos e outros especialistas em corpo humano de todo o planeta estão na posse de informação inquestionável sobre esse tratamento preventivo que salva a vida de milhões de pessoas, evita boa parte das doenças cardiovasculares, a diabetes, o cancro da mama e do cólon, para além de ampliar o tempo de vida com qualidade de qualquer pessoa. Para além de ser um remédio com fiabilidade testada, é gratuito e está ao alcance de praticamente todas as pessoas: fazer exercício físico. Nomeadamente o mais fácil de todos, caminhar. Há demasiada gente que continua a não cultivar esse prazer tão benéfico para a saúde que é andar a pé.
Um dos estudos revelados neste 2016 pela The Lancet mostra que passar oito horas de cada dia sentado numa sala de trabalho ou num sofá frente a um ecrã, não é irremediavelmente um hábito perigoso para a saúde.
Há um modo simples, lógico e eficaz de corrigir o que a priori é uma conduta nada saudável. Não é necessário converter-se em esforçada ou esforçado runner e também não precisa de se entregar ao esforço num ginásio. Basta uma caminhada ou uma pedalada diária. Os investigadores no estudo liderado por Ulf Ekelund, da Universidade de Cambridge e da Escola Norueguesa de Ciências do Desporto, quiseram encontrar respostas para uma questão essencial:
quanto tempo de caminhada para compensar oito horas numa cadeira ou num sofá? As conclusões deste estudo apontam para metas mais largas que os mínimos recomendados pela OMS: em vez dos 20 e poucos minutos por dia, uma hora em cada dia. Uma hora de exercício diário compensa os efeitos nocivos de oito horas de paragem numa cadeira ou sofá.
A nossa mensagem é positiva: é possível reduzir e até eliminar os riscos para a saúde associados a estilos de vida sedentários desde que sejamos suficientemente ativos, incluindo sem ter de praticar desporto ou ir ao ginásio, basta caminhar ou pedalar durante uma hora por dia”,
destaca Ulf Ekelund a partir dos dados do estudo que liderou e que analisou os hábitos e o estado de saúde de um milhão de pessoas na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália.
É reconhecido que vários países estão a dar prioridade à promoção do exercício físico básico. Jim Sallis, da Universidade da Califórnia em San Diego reforça que a caminhada, a pedalada ou qualquer outra forma de exercício físico “não só combate o risco de doença cardiovascular, diabetes e cancro como contribui para evitar centenas de milhar de casos de demência em cada ano”. Apesar disso, lamenta Sallis, “a pandemia global de inatividade física mantem-se e a resposta global continua a ser demasiado lenta”.
Os estudos agora divulgados pela The Lancet apelam para maior envolvimento e ação por parte de quem conduz as políticas de saúde. Entre as práticas positivas já em curso é referido o que está a acontecer em Curitiba (Brasil), Bogotá (Colômbia) e Cambridge (Reino Unido) onde foi decidido ampliar a distância entre paragens de autocarros para assim conseguir que as pessoas sejam encaminhadas para contrariar o sedentarismo e andar um pouco mais.