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Buenos Aires caminha

A enorme 9 de Julio é a principal avenida de Buenos Aires. Em 2012, quando começou a ser requalificada num plano que dá prioridade às pessoas, tinha 10 faixas para automóveis e 180 metros de largura, ao longo de um quilómetro de comprimento. Dominada pelo célebre obelisco e muitos edifícios que fazem parte da história arquitetónica da cidade, a 9 de julio é uma das avenidas mais largas do mundo e corta ao meio o centro mais comercial da capital argentina. A zona é chamada de Microcentro, e é por ali que começou o plano de requalificação do centro de Buenos Aires, com a introdução de áreas verdes, corredores bus e, sobretudo, desenvolvimento de vias pedonais – programa que tem o nome de Buenos Aires Camiña.

A transformação começou no Microcentro. Na enorme 9 de Julio e nas sobrecarregadas, ruidosas, e degradadas avenidas e ruas envolventes. Ao todo, 200 quarteirões por onde passa todos os dias mais de um milhão de pessoas. Antes, quatro partes da largura de cada rua estavam tomadas por carros, carrinhas e camiões. Agora, numas, a relação é meio por meio e outras tornaram-se pedonais, embora com períodos para transportes de abastecimentos, para além dos acessos a garagens.

Clara Muzzio, formada em políticas públicas recebeu o encargo de dirigir a regeneração urbana de Buenos Aires, liderou o Plano Microcentro e coordena o uso do espaço público em Buenos Aires. Veio a Lisboa para a sessão de apresentação da 5ª edição da URBAN FUTURE GLOBAL CONFERENCE (UFGC), considerado o maior evento europeu sobre sustentabilidade urbana, e que vai reunir em Lisboa entre 1 e 3 de Abril de 2020, cerca de 3000 pessoas que são impulsionadoras de mudanças sustentáveis nas cidades onde vivem, criando sinergias para o desenvolvimento de projetos concretos. Estes “City Changers”, termo usado para identificar todos os que trabalham em prol da criação de cidades mais amigas do ambiente, incluem presidentes de câmaras, urbanistas, arquitetos e representantes de variados setores como o imobiliário ou da mobilidade.

Uma das participantes é Clara Muzzio que, em entrevista ao JZ, contou o laborioso plano desenvolvido, que passou por “centenas de reuniões, com taxistas, comerciantes, lojistas, residentes, sindicatos, associações patronais, ONGs”, para, “por entre muitas opiniões divergentes, sensibilizar todos para a valia da requalificação. Ela fala-nos de uma revolução na mobilidade e na pedonalização do centro de Buenos Aires:

A partir do plano geral Microcentro, está a ser desenvolvido um plano específico de pedonalização BUENOS AIRES CAMIÑA, aliás, concebido pelo atelê da portuguesa Sónia Lavadinho.

Este plano BUENOS AIRES CAMIÑA organiza-se a partir de 10 “atractores”, que são 10 lugares com grande afluência de pessoas (estação Once; os parques Centenário, Chacabuco, Los Andes, Patricios y Lezama; as praças Irlanda, Itália, San Martín e de Mayo). Foram introduzidos “circuitos de caminhada” entre cada um desses lugares. São percursos com arborização, com esplanadas, com espaços de água, quiosques e outros estímulos. Foram definidos três circuitos “magistrais”, cada um deles com percurso que toma cerca de 40 minutos de caminhada em passada ativa. Em todos os cerca de 400 metros há intersecções com outras vias pedonais. O plano está a ser desenvolvido no terreno, como nos explica Clara Muzzio:

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