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Urbanismo com perspetiva de género

“Precisamos de cidades cuidadoras, isto é, que não deixam ninguém para trás, e até agora o que vemos é as mulheres, tantas mulheres, no caso do Brasil sobretudo as negras a permanecerem invisíveis no planeamento”, constatou Adriana Souza, doutora em Mobilidade Urbana, atualmente consultora no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade. A socióloga urbana Blanca Valdivia Gutierrez, do Col Lectiu Punt 6, de Barcelona, concorda e defende a “despatriarcalização do urbanismo” num processo que deve dar a palavra a todos, designadamente “as mulheres com mais idade que nunca são escutadas” e “redesenhar com elas o mapa da cidade”.

Adriana Souza e Blanca Valdivia participaram na quarta das cinco conversas do ciclo “Cidade que Abraça”, promovido Coletivo Zebra e pela Associação Corações com Coroa, no âmbito do Co-lab WALK MY CITY FREE. Esta com o tema Urbanismo com Perspetiva de Género, e moderação da arquiteta, professora e investigadora Patrícia Santos Pedrosa.

Reveja aqui a conversa transmitida em livestream em 16 setembro 2020

Blanca Valdivia reclama a “territorialização das cidades”: ouvir as pessoas no lugar onde moram e avaliar com elas as transformações necessárias. Explica que, por exemplo, “a colocação de um banco onde as pessoas podem estar bem sentadas” pode, por si só, ser um contributo para as pessoas se sentirem bem nas ruas à beira de casa. Insiste: “Há pequenas intervenções que geram mudanças fundamentais”. Reforça que “é absolutamente necessário sair da visão masculinizada”. Também destaca o valor essencial da perceção de segurança “condicionante da ida ou não ida à rua”.

Adriana Souza trouxe a experiência do Brasil atual: “O andar a pé, em lazer, hoje tornou-se prazer reservado a pessoas com recursos. As pessoas comuns perderam esse prazer de andar a pé pelo gosto de caminhar. Temos a tarefa de recuperar a cidade inclusiva no espaço público. Adriana concorda que a perceção de segurança na rua é determinante, mas insistiu que “não basta iluminar as ruas, isso até pode acrescentar a ameaça, da mesma forma que um quiosque pode servir para encobrir emboscadas”. Adriana Souza insiste que o planeamento da cidade deve ter em conta “a leitura social do corpo da mulher quando ela se move no espaço pública”. Aponta a cidade de Brasília, levantada a meio do século XX, como exemplo de cidade que, com aqueles grandes vazios e distâncias entre edifícios, “não foi pensada para a mulher”.

 


O Co-Lab Walk My City Free resulta de uma parceria entre o Coletivo Zebra, a Associação Corações Com Coroa, a Inland Norway University of Life Sciences e o Norway’s Institute of Transport Economics. Este projeto é cofinanciado pelo fundo bilateral dos EEA Grants.

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