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Emoções Urbanas. Desenhar o sonho das pessoas

“Andar a pé é uma fonte momentânea de felicidade humana, recarrega o nosso perfil emocional, dá-nos prazer corporal e relaxamento mental”, defendeu Filipa Matos Wunderlich, arquiteta e desenhadora urbana, diretora do Mestrado em Design Urbano Interdisciplinar, na Bartlett School of Planning, em Londres. Sónia Lavadinho, geógrafa, antropóloga e socióloga urbana, fundadora e líder da Bfluid, empresa especializada em mobilidade e desenvolvimento urbano sustentável, responsável por planos de mobilidade em cidades como Paris ou Buenos Aires entende que uma conquista que é precioso ser conseguida é “dar tempo ao porta-moedas temporal de cada pessoa”, isto é, que “cada pessoa possa ter mais tempo para andar a pé e prestar atenção ao que está em redor, a luz, os cheiros, a natureza do lugar e o convívio direto ou indireto com as pessoas em co-presença”.

Filipa Matos Wunderlich e Sónia Lavadinho  participaram na quinta das conversas do ciclo “Cidade que Abraça”, promovido Coletivo Zebra e pela Associação Corações com Coroa, no âmbito do Co-lab WALK MY CITY FREE. “Emoções Urbanas” foi o tema desta conversa que teve transmissão em livestreaming e disponível em gravação, com condução de Sandra Moutinho, fundadora e Presidente do Coletivo Zebra.

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Sónia Lavadinho define estar bem num lugar como “estar bem em cima dos dois pés nesse lugar, sem ter vontade de sair, a desejar continuar a viver as mudanças de ritmo do lugar e a não querer tomar um qualquer transporte para sair dali”. Filipa Wunderlich junta a esta definição “o prazer de sentir e perceber de que é que os lugares são feitos”.

Filipa também tem formação especializada em música, com participação num Conservatório de Artes nos Países Baixos, acrescentou nesta conversa-debate a analogia entre “a sinfonia do lugar e a sinfonia de uma peça musical”. Especificou: “Há para explorar a estética sensorial do lugar, entender os rituais sociais e apreender o desenho da expressividade e da emoção do lugar, traduzida pelo que lá acontece e que lhe dá a identidade”.

Sónia afirma que “é preciso andarmos a pé para nos envolvermos com uma cidade com um lugar”. Contrapõe: “ao viajarmos no metro somos comos toupeiras e os nossos neurónios ficam incapazes de interpretar a cidade”. Sónia Lavadinho ilustrou este raciocínio com a experiência feita com gatinhos: se levados ao colo até ao sítio onde está a comida, ficam perdidos e não sabem como voltar; se vão por eles, mesmo que através de um labirinto, apreendem a noção desse lugar e sabem voltar.

Sónia Lavadinho lembrou que nos referimos muitas vezes aos “cinco sentidos”, mas vale que não nos escapem os tantos outros que temos e que são determinantes. Referiu que “o sentido da perceção da temperatura é cada vez mais importante” no atual quadro de aquecimento global”.

Sandra Moutinho, condutora desta conversa, colocou a terminar uma pergunta comum às duas participantes convidadas: que recomendações deixam aqueles que têm a tarefa de intervir no desenho urbano de um lugar e uma cidade?

Filipa reforçou que o arquiteto-designer “tem de ser mediador, tem de se juntar aos diferentes grupos desse lugar, a todas as comunidades, tem de pôr todos a participar na exposição das aspirações para esse lugar, é preciso que todos sintam o lugar juntos” para que seja possível o desenho harmonizado com as diferentes aspirações.

Sónia exprimiu concordância com esta prática que refere como “co-desenho das emoções”. Desenvolveu: “É desenhar os sonhos das pessoas ao lado delas a caminhar pelas ruas. Vamos caminhando e as pessoas vão vendo como anotamos no nosso caderno essas aspirações”. Acrescentou: “Também é preciso trazer essa cidade das emoções para o campo político, levar os políticos a decidirem em conformidade com esse desenho das aspirações”.

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